domingo, 17 de maio de 2015

Mucker

Os Muckers – messianismo em Sapiranga


O Brasil, da segunda metade do século XIX até meados do XX, foi um terreno fértil para movimentos milenaristas, como Canudos (veja a postagem http://historiaeavida.blogspot.com/2011/10/civilizacao-ou-barbarie-o-massacre-de.html) ou o Contestado. No Rio Grande do Sul, não foi diferente. O mais conhecido movimento foi o dos Muckers, que ocorreu do final da década de 1860 até 1874, em Sapiranga, quando este município ainda fazia parte de São Leopoldo.
Quando os imigrantes alemães chegaram ao Brasil, receberam terras e incentivos do governo. Mesmo assim, havia problemas quanto a questão das heranças. As partilhas acabavam gerando propriedades muito pequenas. Além disso, como o Brasil era um império católico, os imigrantes luteranos acabavam sendo prejudicados, pois todos os registros de batismo, casamento e óbito deveriam estar registrados nas Igrejas, não reconhecendo, portanto, a herança de quem não fosse católico.
Nesse contexto, existiam disputas veladas entre imigrantes germânicos luteranos e católicos, moradores do meio rural e do meio urbano, como comerciantes. Foi nesse contexto e nas bordas entre estes conflitos que surgiram as figuras do casal Jacobina e João Jacob Maurer.
João Jacob era um curandeiro local, conhecido como “Wunderdoktor”, que recebia os doentes em sua casa. A sua esposa, Jacobina, dizia ter visões, e passou a interpretar a Bíblia (ainda que muito provavelmente fosse analfabeta) e a fazer profecias. Muitos dos que frequentavam o lar dos Maurer em busca de curas passaram a ver Jacobina como Messias, uma reencarnação de Cristo, que viria salvar aquelas pobres almas.
Por volta de 1872, os seguidores de Jacobina passaram a se instalar no Morro Ferrabrás, isolando-se do restante da comunidade. Tal comunidade não era muito bem vista pelos membros de uma elite econômica local e causavam problemas para as autoridades. O casal chegou a ficar preso por quarenta e cinco dias em 1873.
O grupo em questão ficou pejorativamente conhecido pelos demais como muckers, palavra alemã que desgina um “falso beato”, ou alguém que parece ser santo, mas na verdade não é de confiança. O termo ainda era usado na Alemanha para designar os membros de uma ala “purista” do luteranismo, os pietistas.
É importante frisar que entre os Muckers havia tanto protestantes como católicos. Foi um movimento social religioso milenarista, que via em Jacobina o seu Messias. Ao mesmo tempo, foi depreciado tanto pelas autoridades eclesiásticas, como por pastores luteranos. Mesmo assim, a mensagem de Jacobina atingiu uma ampla gama da sociedade: tanto pobres quanto pessoas mais abastadas se identificaram com suas ideias.  
Entretanto, com o tempo, o grupo se tornava cada mais separado e cada vez mais se opunha aos outros imigrantes, ou descendentes de imigrantes alemães. Em contrapartida, esta comunidade passou a hostilizar os Muckers cada vez mais. Com isso, os ânimos se acirraram e as normas do grupo ficaram mais rígidas.
Em 1874, os seguidores do casal Maurer teriam praticados atos violentos contra moradores das redondezas. O atentado contra uma autoridade local, o assassinato de um órfão cuja tutela um mucker havia perdido, e vários incêndios a casas, galpões e vendas foram os crimes que lhes foram atribuídos.
No início de agosto de 1874, os Muckers foram massacrados e Jacobina foi morta por uma intervenção militar brasileira. Cerca de cento e cinquenta pessoas foram mortas. O grupo heterogêneo, composto de homens e mulheres; adultos, idosos e crianças ainda resistiu com táticas de guerrilha, apesar da desproporção das forças em combate.
O atual secretário da Cultura do Rio Grande do Sul, Luiz Antonio de Assis Brasil, escreveu o romance “Videiras de Cristal”, que narra a história de Jacobina e seus seguidores. Existem dois filmes sobre o tema: Os Muckers, de 1978, com Paulo César Pereio e José Lewgoy e A Paixão de Jacobina, de 2002, com direção de Fábio Barreto.
Bibliografia:
KÜHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Leitura XXI, 2004.
DICKIE, Maria Amélia Schmidt. “O movimento mucker, o demônio, a irracionalidade e o espírito”. In: PICCOLO, Helga Iracema Landgraf e PADOIN, Maria Medianeira. Império - Coleção História Geral do Rio Grande do Sul. Passo Fundo, Méritos, 2006, v. 2.

História do Hospital de Sapiranga

História

O Hospital foi fundado a partir de uma mobilização da comunidade de Sapiranga. Em uma reunião do dia 15 de março de 1944 foi decidido construir a Casa de Saúde, já havendo neste dia, importantes e significativas doações. No dia 05 de abril do mesmo ano, a Sociedade Beneficente Sapiranguense foi legalmente fundada.
Em 25 de fevereiro de 1951 foi realizada a inauguração do Hospital, com 50 leitos, atendendo toda a população, principalmente os mais carentes, com recursos arrecadados através de doações e realização de festas comunitárias.
Fachada antiga do Hospital.
Em 1972, uma doação significativa realizada pela “BRAT FÜR DIE WELT (Pão para o mundo), da Alemanha, permitiu uma ampliação do Hospital, agregando mais 20 leitos.
Com o passar dos anos, Sapiranga passou a ser um grande pólo industrial calçadista da região do Vale dos Sinos. Com isso, houve um grande aumento da população e, como conseqüência, o Hospital ficou pequeno para a demanda existente.
Em 1988, as empresas de Sapiranga começaram a construir um novo Hospital com 3.710 m2 de área. Esta obra ficou paralisada até setembro de 1997, quando com recursos estaduais, municipais e da própria comunidade, conseguiu-se ter um moderno Hospital, atendendo diversas especialidades e ampliando o número de leitos para 121, sendo 101 para SUS.
 
 Primeiros apartamentos      Schwester Helena Wagner, administradora do Hospital na década de 60 e 70.

Casa Tombada


Caminhos de Jacobina

Caminho conta história de Jacobina em Sapiranga

Trajeto tem monumentos e locais onde se desenvolveu a Revolta dos Muckers, em 1870



Um passeio voltado para a história de Sapiranga tem atraído cada vez mais turistas. Criado em 2001, o roteiro Caminhos de Jacobina busca contar a história dos Muckers, episódio que inspirou o filme “A Paixão de Jacobina”.

Os moradores da época atribuíam a Jacobina Mentz Maurer o dom medicinal por meio do uso de plantas e chás. No entanto, preocupados com a influência que ela passou a exercer sobre os moradores, tropas militares começaram a combater suas atividades, considerando-a uma bruxa.

“Esse episódio ficou conhecido como a Revolta dos Muckers, que ocorreu em 1870”, explica o historiador Rodrigo Medina. Segundo ele, para manter viva a imagem dos Muckers, a comunidade de Sapiranga criou espaços que foram marcados pelo conflito, como a Estátua de Genuíno Sampaio, líder do exército de combatentes aos Mucker, e a Cruz de Jacobina, onde possivelmente ela tenha sido assassinada.

“Tanto os monumentos quanto a nomeação de lugares ou até mesmo de instituições que se associam a esse passado Mucker podem ser entendidos como uma necessidade que essa comunidade teve, e ainda tem, de manter essa história viva, mesmo que ela não tenha toda a sua trajetória comprovada. Quem quer, acredita no poder de Jacobina, quem não quer, convive com o mito.”

O roteiro começa pelo cemitério Amaral Ribeiro, onde está situado o túmulo com um obelisco com o nome de quatro moradores que morreram no conflito contra os Mucker, em 26 de julho de 1874. “Através das lápides do século XIX, podemos observar traços culturais e religiosos da comunidade, que têm escritas em alemão”, salienta o historiador. Já a estátua do Coronel Genuíno Sampaio, junto à sede da Associação Gaúcha de Voo Livre, marca o local onde se travaram duas batalhas entre soldados e integrantes do grupo de Jacobina. A estátua foi construída em 1931 e inaugurada em 1932. Após as gravações do filme “A Paixão de Jacobina”, outro local foi incorporado ao roteiro turístico: a Colônia de Jacobina, localizada na Picada Schneider, que serviu de locação para as gravações. A propriedade rural possui uma casa centenária em estilo enxaimel e reprodução dos personagens do filme.









A Escadaria da Pedra Branca também pode ser visitada durante o trajeto e marca um dos locais onde Jacobina realizava atos que acreditavam ser de cura para enfermos. Mas é o museu Adolfo Evaldo Lindemeyer, antiga Estação Ferroviária da cidade, que abriga todo o acervo sobre o município e o episódio dos Muckers.

Mais sobre Sapiranga



Gentílico: sapiranguense

Histórico


A área correspondente ao município de Sapiranga, inicialmente, era ocupada por índios Kaingáng e Guarani. A ocupação portuguesa ocorreu anteriomente a 1816, sendo que o 1º proprietário, segundo o registro de sesmarias (1816 1820), foi Innocencio Alves Pedroso, que vendeu suas terras ao capitão João Ferreira da Silva e este a Manoel José Leão. Nesta época a região chamava-se Padre Eterno e pertencia a freguesia da Aldeia dos Anjos, onde Manoel José Leão instalou sua propriedade conhecida como Fazenda Leão (Leonerhof).
No período de 1824 a 1826, os primeiros alemães estabeleceram-se nas terras da Fazenda Leão.
Os primeiros imigrantes alemães desembarcaram no Porto das Telhas, em São Leopoldo, no dia 25 de Julho de 1824. Desde então, iniciou-se a história dos município que rodeiam o Vale dos Sinos. Esses imigrantes receberam lotes de terras, onde puderam dar início a sua habitação.
A partir de 1845 começam a ser vendidos os prazos coloniais na região norte e centro de Sapiranga. Os colonos vindos do Hunsrück, aí instalados, vão se dedicar à atividade agrícola de subsistência, bem como ao artesanato ferraria, marcenaria carpintaria, selaria, tamancaria tradição que haviam trazido da Europa e graças a qual puderam suprir suas necessidades nas novas colônias. Nos primeiros anos, era muito comum encontrar os colonos dedicando-se, simultaneamente, a alguma atividade artesanal e agrícola. Aos poucos, o artesanato se amplia para pequenas manufaturas onde, como na lavoura, a mão-de-obra básica era a familiar. Contudo, o advento da manufatura não iria eliminar o artesanato, de modo que, por muito tempo, ambas as atividades iriam coexistir.
Em 1850 começou o povoamento efetivo de seu solo, com o estabelecimento dos primeiros colonos. 1º de Julho desse ano havia em Sapiranga e seus arredores 398 habitantes, dos quais 265 evangélicos.
Em 9 de Fevereiro de 1851, pelo Pastor Doutor Roch é inaugurada a primeira igreja, sendo que até então os cultos eram celebrados em residências particulares.
Em 1880, seria construída a casa paroquial e também a Escola Duque de Caxias. Em 1890 é adquirido o primeiro sino para a igreja.
A partir de 1890, Sapiranga deixa de ser parte do 4º Distrito de São Leopoldo para ser vila, sede do 5º distrito, pelo Ato Intendencial nº 154. Em 1899, iniciou-se a construção da Ferrovia Novo Hamburgo-Taquara, inaugurada em 1903, ampliando os tranportes que variavam de lanchões, cavalos, mulas e carretas.
Dessa data em diante, Sapiranga recebeu um novo impulso e, ao longo da ferrovia, se formaram os povoados de Araricá e Campo Vicente.
Em nosso município, havia abundância de uma fruta-araçá pyranga-(termo indígena que significa a fruta araçá vermelha), denominação que originaria o nome do município de Sapiranga. Esta fruta existe em quantidade significativa nos capões do Kraemereck. A própria denominação de Sapiranga aparece pela 1ª vez nessa região.
O desenvolvimento recebe impulso com a eletrificação da vila em 1935. A economia se diversifica: 76 casas comerciais, 148 estabelecimentos industriais , destacando-se indústrias de calçados, sombrinhas, massas, sabão, atafonas , carimbos, metalúrgicas, móveis, aguardentes, vinhos, alfaiataria. Na década de 40, ocorre um desenvolvimento maior na indústria de madeira e de calçados. No ano de 1946, inicia a 1ª linha de ônibus pertencente a Braum e Cia.
Em 1948 tem início o movimento emancipacionista, visando criar um novo município, desmembrando Sapiranga de São Leopoldo. Em 1953 , após uma intensa campanha, na qual foram visitados todos os quadrantes da região que poderia emancipar-se, churrascos e discursos são feitos intensivamente; panfletos bilingües-portugês e alemão- lançados em todos os lugares; tem lugar um plebiscito, no qual se impõe a soberana vontade popular , almejando efetivamente a emancipação. O plebiscito teve lugar a 20 de Dezembro de 1953, sendo a proporção de votos de quase 5 por 1 a favor da emancipação. Pela Lei estadual n. 2.529, de 15 de Dezembro de 1954, foi criado o município de Sapiranga, ocorrendo a instalação a 28 de Fevereiro de 1955.
O primeiro Prefeito de Sapiranga foi Edwin Kuwer, compondo-se a 1ª Câmara Municipal de Veradores por Manoel Baillet Candemil, Adolfo Evaldo Lindenmeyer, Anita Wingert, Arthur Petry, Bertholdo Hauser, Armindo Schwarz e Leopoldo Sefrin.
Gentílico: sapiranguense.
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Sapiranga, por ato municipal nº 154, de 2803-1890, no município de São Leopoldo.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o distrito figura no município de São Leopoldo.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31 de Dezembro de 1936 e 31 de Dezembro de 1937.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o distrito permanece no município de São Leopoldo.
Elevado à categoria de município com a denominação de Sapiranga, pela lei estadual nº 2.529, de 15 de Dezembro de 1954, desmembrando de São Leopoldo. Sede no antigo distrito de Sapiranga. Constituído de 2 distritos: Sapiranga e Araricá (ex-João Correia), ambas desmembrado de São Leopoldo. Instalado em 28 de Fevereiro de 1955.
Pela Lei municipal nº 34, de 29 de Julho de 1955, são criados os distritos Campo Vicente e Picada Hartz e anexado ao município de Sapiranga.
Em divisão territorial datada de 1º de Julho de 1960, o município é constituído de 4 distritos: Sapiranga, Araricá, Campo Vicente e Picada Hartz.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1º de Janeiro de 1979.
Pela lei estadual nº 8.429, de 02 de Dezembro de 1987, desmembra do município de Sapiranga os distrito de Picada Hartz e Campo Vicente, para formar o novo município de Nova Hartz.
Em divisão territorial datada de 1º de Junho de 1995, o município é constituído de 2 distritos: Sapiranga e Araricá.
Pela lei estadual nº 10.667, de 28 de Dezembro de 1995, desmembra de Sapiranga o distrito de Araricá. Elevado à categoria de município.
Em divisão territorial datada de 2001, o município é constituído do distrito sede.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

Fonte

Agência IBGE Taquara